O mundo complexo das halitoses.
Embora a expressão mau hálito seja a mais vulgarmente usada, o termo médico que define um hálito desagradável é halitose . O termo surgiu pela primeira vez em 1921, num rótulo de um elixir americano e é o resultado da combinação da forma latina “halitus” (ar expirado) com a terminação grega “osis” (sufixo usado para descrever uma alteração patológica).
A halitose pode ser provocada por mais de 80 causas. Precisamente, um dos maiores obstáculos na abordagem do tratamento para o mau hálito sempre se deveu a que a sua origem encontra-se em diversas causas relacionadas com as várias especialidades da medicina. Neste sentido, seria mais adequado falar de as halitoses no plural que de a halitose no singular.
Um problema que afeta a qualidade de vida.
Apesar do termo médico halitose ser relativamente recente, é uma das patologias mais antigas e problemáticas com impacto na coexistência social.
A consciência de padecer mau hálito provoca consequências psicológicas, com manifestações de comportamento visíveis, tais como, tapar a boca ao falar, manter uma maior distância interpessoal ou evitar as relações sociais.
Este fenómeno deve-se ao facto que o simples ato de cheirar encontra-se carregado de uma importante carga emocional, podendo suscitar a aproximação ou a repulsa; ou até estimular a memória. A percepção de um hálito desagradável geralmente provoca um aumento imediato de emoções negativas, tais como irritabilidade, mal-estar, nervosismo e agitação.
A halitose como um sinal de uma patologia subjacente.
O hálito humano (mesmo o considerado normal) é um gás de uma composição complexa. Nos últimos 30 anos, têm sido identificados múltiplos compostos voláteis e constatou-se que uma amostra típica de ar exalado, de uma mesma pessoa, geralmente apresenta mais de 200 compostos de natureza distinta. São diversos os fatores que determinam a ocorrência…
destes compostos, nomeadamente o estado de saúde geral, a condição física, diversas patologias, a ingestão alimentar e medicamentosa, fatores ambientais e os estilos de vida.
Neste contexto, a presença de mau hálito é um indicador de uma atividade bacteriana anormal ou de um mecanismo fisiológico alterado.
A identificação da origem pode ter uma elevada relevância no diagnóstico precoce de algumas doenças. Por exemplo, uma periodontite não tratada pode resultar numa perda prematura dos dentes. Neste sentido, é importante sensibilizar sobre a halitose, com o propósito de que possa ser detectada pelo próprio paciente ou por terceiros, pois a ocorrência repetida de mau hálito é um sinal de que algo não está bem.
As origens mais frequentes do mau hálito.
Um relatório de 2010 publicado pelo Instituto do Hálito indicou que cerca de 60% das causas que provocam halitose têm origem na boca.
As causas extra-orais (aparelho respiratório, tubo digestivo e sistémicas) são responsáveis por cerca de 17% dos casos. Estas causas são de diagnóstico mais complexo e requerem geralmente uma tecnologia mais avançada, sendo mais susceptíveis de detectar numa consulta especializada de halitose munida de tecnologia moderna como os narizes electrónicos.
Nos restantes 23% dos pacientes que procuraram os centros clínicos do Instituto do Hálito não foi diagnosticada halitose verdadeira. Certas condições como a diminuição da secreção salivar, problemas digestivos, stress/ansiedade, embora em alguns casos originem halitose verdadeira, podem criar sensações gustativas que são percebidas como sensações olfativas e induzir uma pessoa a crer que padece de halitose. No entanto, na grande maioria dos casos, também estas condições podem ser tratadas.
Quebrar o tabu.
Estima-se que mais de 25% da população padeça ou tenha padecido de mau hálito de forma habitual, independentemente do género, idade ou classe social; e que a metade dos cidadãos tenham sentido em algum momento preocupação pelo estado do seu hálito. No entanto, e apesar da importância crescente que se atribui a este assunto a nível social, especialmente pelo impacto relevante na qualidade de vida das pessoas afetadas, ainda se constata uma desinformação generalizada sobre o tema.
Além disso, o mau hálito continua a ser um tema anedótico, objeto fácil de todo o tipo de piadas e escárnio. O fato de que muitas pessoas se preocupam com frequência sobre o estado do seu hálito e não se atrevam a falar abertamente sobre este assunto, põe em evidência a forma como lidamos com esta patologia em sociedade.
Se alguém que nos é próximo padece halitose, devemos dizê-lo?
Sem dúvida, a resposta é sim. É surpreendente observar que os colegas de trabalho e os amigos mais próximos àquelas pessoas que padecem halitose preferem não se comprometer com a situação e guardar silêncio. Ao ser questionados sobre a sua postura, defendem-se, argumentando que trata-se de um tema muito delicado e que não se sentem capazes de manifestá-lo abertamente.
Quando este alerta é transmitido com um sentimento de preocupação real e de forma cuidada, as pessoas que padecem halitose valorizam bastante o fato de ter sido alertadas. Os pacientes que acorrem às consultas do hálito, quando relatam o momento em que tomaram consciência de que padeciam halitose, sempre demonstram agradecimento em relação à pessoa que os informou.